Seia tem “muito orgulho” em Afonso Costa

Neta de Afonso Costa perplexa e muito feliz com homenagem ao avô com a inauguração em Seia do Centro de Interpretação da República Afonso Costa.
A Câmara de Seia inaugurou ontem, 25 de março, o Centro de Interpretação da República Afonso Costa (CIRAC) para homenagear “o maior senense de todos os tempos” e o legado da Primeira República.
A cerimónia contou com a presença do presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco e de muitos familiares e amigos que sempre defenderam e preservaram o legado de um dos pais da República.
O momento deixou mesmo “de queixo caído” a neta de Afonso Costa. Sem contar intervir no ato solene de abertura do CIRAC, Teresa Afonso Costa Azevedo Gomes não escondeu a perplexidade e felicidade que sentiu quando soube da homenagem ao seu avô. “Estou de queixo caído”, confidenciou.
A comemorar hoje 93 anos, a neta mais velha viva de Afonso Costa admitiu que “foi a primeira vez que ouvi elogios ao meu avô” e, por isso, “estou muito feliz” com a inauguração deste Centro de Interpretação da República Afonso Costa (CIRAC).
A nova estrutura museológica do Município de Seia está instalada na antiga escola primária Afonso Costa, que foi requalificada para o efeito, num investimento superior a 700 mil euros, cofinanciados pelo Centro 2020, com a missão de promover o estudo e a investigação sobre a República e o legado histórico-político do republicano natural de Seia (1871-1937).
A inauguração marcada para 25 de março foi justificada pelo presidente do Município de Seia, Luciano Ribeiro, com o facto de neste dia, mas do ano de 1918, Afonso Costa, que estava preso no Forte da Graça, em Elvas, ter começado a escrever a sua autobiografia, manuscrito que a autarquia editou para distribuir na cerimónia de inauguração do CIRAC.
O espaço acolhe uma área evocativa dedicada ao político e homem Afonso Costa e outra relacionada com os vários sistemas políticos existentes. Há ainda um espaço reservado a exposições temporárias, sendo que a primeira é dedicada aos cartazes da Primeira República.
No CIRAC é possível conhecer os factos “mais emblemáticos e os momentos mais marcantes da história do país, através do seu percurso político, mas também apontamentos que revelam o seu grande amor pela família”. Um esclarecimento dado por Filomena Correia de Carvalho, arquivista municipal, que fez uma visita guiada ao presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
Gonçalo Salazar Leite, um dos vários bisnetos presentes, desafiou a família a “doar todo o espólio existente” para o CIRAC, de forma a “preservar a memória e a história” de Afonso Costa, que nasceu em Seia, há 154 anos, no dia 6 de março de 1871.
O espaço já conta com algumas doações de familiares, assim como peças de um senense grande admirador de Afonso Costa, o colecionador Rui Veloso, e de Jean Georges, também apaixonado pela República.
Estudar e potenciar a História de “um dos seus filhos mais notáveis”

Luciano Ribeiro destacou Afonso Costa, como “o maior senense de todos os tempos, que muito orgulha o concelho”. Para o presidente da Câmara Municipal, “não há melhor exemplo” do que ter a certeza de que em Seia “se criam, se podem criar ao longo da história, personalidades que além de homens de família se tornam homens de Estado e que tanto contribuíram para a História de Portugal como Afonso Costa”.
O autarca recordou que Afonso Costa (1871-1937) foi um dos ‘pais’ da implantação da República em Portugal e o primeiro português a presidir a um órgão multilateral, a Assembleia Geral da Sociedade das Nações. “Portanto, torna-se justo homenagear e reconhecer um dos senenses mais notáveis da História”, salientou.
Estudar e potenciar a História de “um dos seus filhos mais notáveis”, que marcaram o seu tempo nacional e internacionalmente, é o desejo da Câmara de Seia, que espera que o CIRAC, como centro de estudo e de investigação, seja destinado a turistas, a alunos de todos os graus de ensino e investigadores, que “possam trabalhar o legado” de Afonso Costa.
“Queremos, acima de tudo, que este CIRAC seja dedicado aos senenses, seja dedicado no seu espírito de identidade local, de termos orgulho na nossa história, de termos orgulho na nossa gente”, salientou Luciano Ribeiro.
A narrativa expositiva percorre os principais acontecimentos da Primeira República, desde a sua implantação a 5 de outubro de 1910 até ao golpe militar de 28 de maio de 1926, que ditou o seu fim. O espaço convida à descoberta interativa através de cronologias, documentos históricos, fotografias e vídeos, proporcionando uma experiência imersiva sobre este período da história nacional.
Aguiar-Branco elogia trabalho político de Afonso Costa

O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, destacou Afonso Costa como “um homem de história, amado por uns e odiado por outros que teve frontalidade, coragem e coerência” durante a Primeira República.
“Temos de seguir o exemplo de Afonso Costa e sermos intervenientes, mobilizados para a causa cívica, porque a democracia é a única forma de nós podermos levar por diante as nossas ideias”, acrescentou o presidente do parlamento.
No seu primeiro ato público após a dissolução da Assembleia da República, Aguiar-Branco destacou a “atualidade sensacional” do momento para a inauguração do CIRAC, que leva ao “revisitar de uma figura que, sendo polémica e em que muitas das áreas onde essa dimensão polémica aconteceu”.
“Feliz ou infelizmente, mas é a história, estamos hoje a ser confrontados, tantos anos volvidos, com temas como a violência doméstica, como o multilateralismo, a paz, que não está garantida, a liberdade”, apontou.
O que o levou a dizer que, se Afonso Costa hoje estivesse na política, “seguramente teria um campo enorme para manifestar todo o seu talento, toda a sua coerência e toda a sua força, porque é isso de comum” que se vive na Europa, no mundo e em Portugal.
Nesse sentido, considerou que, talvez, o CIRAC “vá ter ainda um peso acrescido daquilo que é importante transmitir de conhecimento”, tendo em conta a realidade que hoje se vive.
O ato cerimonial teve início com as boas-vindas de Afonso Costa, à janela da sua nova casa. Seguiu-se outra representação com Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente da República constitucionalmente eleito a receber em audiência Afonso Costa, onde discutiram temas “inovadores” na educação, como o combate ao analfabetismo, a escolaridade obrigatória e a criação de escolas comerciais e industriais.
No final da cerimónia foi colocada uma coroa de flores na estátua de Afonso Costa, que o então Presidente da República, General Ramalho Eanes, inaugurou em 8 de novembro de 1981 e que o Município de Seia agora deslocou para o centro da rotunda que fica a poucos metros do CIRAC.