Os remendos e os remendados
Publicidade

Haverá com certeza jovens que não sabem o que são os remendos: aquilo que serve para consertar roupa ou calçado velho, conforme a definição do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Na minha infância via a minha avó a passagear as meias com a ajuda de um “ovo” de madeira, nas tardes de inverno. Ela tinha arte nesse trabalho de paciência. Também ela deitava remendos nas calças de trabalho do meu pai, que na altura trabalhava nas obras, ou no chantier como por lá se dizia.

Já há muito que Portugal deixou de ser uma terra de remendados, neste tempo moderno de fast fashion, as roupas são descartáveis e enviamo-las para o lixo com a maior das ligeirezas. Na atualidade é importante reverter caminho nessa área a fim de poder resposta aos desafios do green deal e das metas da neutralidade carbónica abraçados por Portugal no âmbito europeu e assim proteger o Ambiente.

Lembramos que o têxtil é a segunda indústria mais poluidora a nível mundial e que é urgente tomar medidas para minimizar o seu impacto. As medidas legislativas só têm verdade eficácia se as pessoas criarem novos hábitos de vida, evitando o consumo desenfreado e promovendo a reutilização das roupas. Noutro plano, as empresas tecnológicas já trabalham nos processos de transformar as roupas usadas em componentes reutilizáveis. As novas tecnologias estão ao dispor do progresso ambiental contando com o apoio financeiro da União Europeia.

Por estes dias, foi noticiado pelo Seia Digital que a Estrada Nacional 17 iria ser remendada, sinais dos tempos! De fato, esses trabalhos já se iniciaram e vão de vento em poupa. Outra notícia adiantou a realização das obras no IC6, obra essa há quanto prometida, “des-prometida”, reprogramada…. Venham os remendos e troços de obra! (já que ficou noticiada a continuação do IC6 de Tábua até Folhadosa).

Serão migalhas dirão alguns, vamos considerar que este pouco é ainda assim uma melhoria para quem vive e calcorreia estas estradas do Interior. Mas há mais sinais positivos para a nossa economia.

Pelo 5º ano consecutivo a população portuguesa aumentou, fixando-se em 2023 em 10,6 milhões e neste caso concreto são os imigrantes que vêm remendar a nossa catastrófica demografia. Choramos os jovens diplomados que emigram para o estrangeiro em busca de melhor vida (podendo regressar ou não) e acolhemos com medo (ou quiçá com outros sentimentos menos nobres) os imigrantes que procuram em Portugal o que os nossos jovens emigrantes encontram lá fora. Perante as mais claras evidências há quem queira continuar a ver a imigração como um problema e não como uma oportunidade imperdível para o futuro do país!

Os meus pais foram emigrantes em França nos anos 70, eles e os demais terão sido um problema para a França? Ou antes a força de trabalho que a economia francesa precisava?

Que devemos nós pensar dessas ideias que contrariam os mais simples ditames económicos? Não são por certo ideais patrióticos, no limite, patriotices descabidas!

Vamos remendar estes pensamentos cobardes à luz desta máxima de Victor Hugo “Servir a pátria é metade do dever; servir a humanidade a outra metade”.

Partilhe este artigo...