Ara despede 130 trabalhadores
A fábrica de calçado Ara, o maior empregador de Seia, despediu, sexta-feira, 130 trabalhadores. Empresa culpa a crise no mercado europeu e a guerra na Ucrânia para a dispensa dos colaboradores. Câmara Municipal já reuniu com a administração e recebeu garantias de que a fábrica vai manter-se em Seia.
A empresa de capitais alemães tem vindo nos últimos meses a proceder a reajustamentos. Começou por encerrar a secção de solas e pintura, na secção de montagem também houve dispensa de trabalhadores e mais recentemente, cerca de 200 trabalhadores estiveram em casa dois meses a aguardar por novas encomendas, que não aconteceram.
Numa comunicação dirigida aos 130 trabalhadores, onde é explicado a intenção de proceder a despedimento coletivo, a gerência da empresa refere que a redução deve-se a “motivos de natureza tecnológica e estrutural”.

Explica o documento a que o ‘Seia Digital’ teve acesso, que a “necessidade desta reorganização” está inserida num “contexto único” que atinge os mercados da Ara na Alemanha, França e Áustria, que “atravessam uma adversa situação económica”, originando “uma forte contração no consumo de calçado”. A isto junta-se o encerramento da Rússia, “um mercado onde a Ara Shoes tinha vendas robustas”, que estão impedidas com as sanções impostas pelo Ocidente por causa da guerra com a Ucrânia.
Como o crescimento das exportações na zona euro “deverá permanecer reduzido”, e sendo a Alemanha o maior mercado da Ara Shoes, país onde se encontra a sede da Ara Shoes GmbH e “único cliente” da unidade produtiva de Seia, “leva à necessidade do reajustamento da sua produção”, refere a mesma comunicação.
No documento é salientado que a fábrica de Seia – a outra do grupo é na Indonésia – nos últimos três anos “aumentou significativamente a sua capacidade de produção, tornando-se a principal unidade produtiva” da ‘casa-mãe’. Contudo, a empresa na Alemanha “registou uma elevada e inesperada quebra nas vendas da estação de Primavera/Verão e nas vendas e encomendas para Outono/Inverno de 2024, que se encontram muito abaixo das expectativas e da capacidade produtiva da unidade de Seia”.
Por isso, nos meses de fevereiro e março, a produção de sapatos tradicional “viu-se obrigada a parar, por falta de encomendas, sendo apenas retomada em abril, com menor capacidade instalada”.
A empresa explica que foram reafectados à restante produção da fábrica “os trabalhadores possíveis, de acordo com as suas qualificações”, que efetuou nos últimos meses, “por acordo”, a diminuição do quadro de pessoal, “ajustando-o a uma menor necessidade produtiva”, mas com o “decréscimo das vendas” antevê que um conjunto de colaboradores fique “em situação de inatividade, a quem deixará de ser possível a atribuição de quaisquer outra funções”. Refere, por isso, que a manutenção desse quadro de pessoal “compromete a competitividade” da Ara Shoes Portuguesa no mercado internacional, “sendo urgente o reajustamento da capacidade produtiva para o atual cenário e, consequentemente, a reorganização de pessoas quer nas áreas produtivas quer nas áreas de suporte à produção, salvaguardando a viabilidade dos restantes postos de trabalho”.
A gerência da Ara refere que o procedimento de despedimento coletivo “é o único meio jurídico adequado com vista a redimensionar o quadro de pessoal” e “proteger os interesses dos trabalhadores”, garantindo o acesso ao subsídio de desemprego e ao pagamento da compensação pelo tempo trabalhado.
No documento é ainda explicado os critérios que estiveram na base da seleção dos trabalhadores a despedir. Foi tido em consideração a “versatilidade”, o “nível de absentismo” e o “conteúdo das suas funções”. Foi ainda decidido “considerar situações pessoais e familiares” dos trabalhadores abrangidos e potencialmente abrangidos, “para serem escolhidos aqueles em que os efeitos na sua vida pessoal e financeira fossem menos significativos”.
Autarca de Seia preocupado com mais uma leva de despedimentos
O presidente da Câmara Municipal de Seia reuniu na semana passada com a administração da empresa, a quem manifestou preocupação por mais um despedimento coletivo. Luciano Ribeiro referiu ao ‘Seia Digital’ ter garantias de que a empresa vai continuar em Seia, e que a dispensa de trabalhadores se “deve à situação económica” dos países para onde a Ara exporta o calçado.
Uma das garantias transmitidas ao autarca de que Seia “vai continuar a ser a principal unidade” do grupo alemão, tem a ver com “a transferência ou o reforço de competências” para o concelho das unidades de logística e do armazém de exportação.
Para tornar a empresa competitiva, Luciano Ribeiro referiu ainda que a unidade “vai mudar o produto”, já que o clássico “tem menos saída”. Disse também que as linhas de costura “vão ser reduzidas de seis para três” e que a empresa vai “apostar mais na injeção”.
Sem nunca referir quantos trabalhadores estão atualmente afetos à empresa, o presidente da Câmara Municipal salientou que o objetivo da administração da Ara “é ficar com cerca de 550 pessoas”.
Fundada em 1949, em Langenfeld, na Alemanha, a Ara Shoes implementou-se oficialmente em Portugal a 6 de dezembro de 1974. A unidade de produção de Seia – a única que ainda labora no nosso país – foi inaugurada a 6 de Maio de 1991, tornando-se numa das principais empregadoras, produtoras e exportadoras do setor do calçado em Portugal.
