Autarcas criticam atraso no Plano de Revitalização da Serra da Estrela: “Uma mão cheia de nada”
Três anos depois dos incêndios, municípios acusam o Governo de não concretizar o Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela, criado em 2024 com 155 milhões de euros, e exigem reprogramação e garantias de financiamento.
Três anos depois dos incêndios que devastaram a Serra da Estrela, os autarcas da região dizem que o Plano de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela (PRPNSE) continua por concretizar.
Lançado em fevereiro de 2024, o plano foi apresentado pelo Governo como um instrumento estratégico de recuperação económica, social e ambiental, com uma dotação de 155 milhões de euros. Mas, segundo os municípios, o dinheiro nunca chegou e nenhum projeto saiu do papel.
“Em concreto, o que houve foram reuniões com vários membros do Governo e da CCDR Centro e estamos a aguardar nova reunião”, afirmou Luís Tadeu, presidente da Associação de Municípios do Parque Natural da Serra da Estrela.
O ainda autarca de Gouveia confirmou que “os timings, os valores e alguns projetos” previstos já estão “muito ultrapassados”, pelo que os municípios abrangidos vão propor uma reprogramação do PRPNSE, ajustando os projetos às novas necessidades.
O responsável admite que “não foi candidatado rigorosamente nada”, apesar de os municípios terem apresentado propostas com alguma maturidade e prontas a arrancar, mas “algumas podem já nem fazer sentido”.
“É importante perceber se o Governo comparticipa a componente nacional ou se serão os municípios a suportar parte dos apoios comunitários”, sublinhou Luís Tadeu.
Em Manteigas, o presidente Flávio Massano é ainda mais duro na crítica. “Infelizmente, a conclusão nua e crua a que chegámos é que não existe dinheiro. O Plano de Revitalização é uma mão cheia de nada”, lamenta.
O autarca recorda que os 155 milhões anunciados nunca foram assegurados e que “os quadros comunitários estão esgotados”. Acrescenta que, no Orçamento do Estado de 2025, a Serra da Estrela conta apenas com 1,5 milhões de euros, verba considerada insuficiente para dar resposta às promessas feitas após o grande incêndio de 2022. “Já apresentámos estudos e projetos para aplicar essa verba, mas ainda não tivemos resposta”, sublinha Flávio Massano.
“O interior e a Serra da Estrela estão sempre na ponta da língua, mas longe do pote”
“A Serra da Estrela é uma das maiores áreas protegidas do país. Temos uma data de valores e de ações que eram fundamentais e ainda não fizemos nada do estipulado. Pior do que isso, é que não temos noção de quando é que poderemos vir a fazer alguma coisa”, lamentou o autarca.
Também Luciano Ribeiro, reeleito em Seia, fala em “muitas expectativas defraudadas” e na falta de resultados concretos. “O interior e a Serra da Estrela estão sempre na ponta da língua e perto do coração, mas sempre muito longe do pote. Há coisas simples que não se vislumbram caminhos para acontecerem”, critica.
O autarca garantiu que os municípios do PNSE “continuam unidos para exigir do poder central o que nos é merecido” e disse esperar que no debate do Orçamento de Estado, na Assembleia da República, “algo possa melhorar com a intervenção dos deputados eleitos pelos distritos da Guarda e de Castelo Branco”.
Na Guarda, o presidente Sérgio Costa partilha a frustração e sublinha que as autarquias “fizeram a sua parte”. “Temos vários projetos prontos, entre eles a Estrada Verde, uma via turística que ligará a cidade ao maciço central da Serra da Estrela, elaborada em conjunto com Celorico da Beira e Gouveia”, adianta.
“Agora cabe ao Governo dizer a que candidaturas podemos concorrer ou quais os fundos disponíveis. Não podemos esperar três ou quatro anos pelos apoios prometidos”, afirma.
