Escola Superior de Seia celebra Dia Mundial do Turismo com enfoque na sustentabilidade e exemplo inspirador do Chef Carlos Henriques

A Escola Superior de Turismo e Hotelaria (ESTH) do Instituto Politécnico da Guarda, em Seia, assinalou esta quinta-feira, 2 de outubro, o Dia Mundial do Turismo com uma sessão comemorativa centrada no “Turismo e Transformação Sustentável”, lançado pela Organização Mundial do Turismo (OMT).
O evento reuniu alunos, docentes, antigos estudantes e convidados especiais, num momento que se destacou não só pela reflexão sobre os desafios do setor, mas também pelo testemunho inspirador do Chef Carlos Henriques, ex-aluno da Escola e fundador do restaurante Nolla, em Helsínquia, na Finlândia – referência internacional em práticas de desperdício zero.
Na sessão de abertura, o diretor da ESTH, Ricardo Guerra, destacou a importância da ligação entre a sustentabilidade e a formação académica, e o orgulho em receber Carlos Henriques de volta à instituição, 20 anos depois de ali ter iniciado o seu percurso na área da hotelaria. O diretor saudou os alunos e a classe docente da Escola, em especial a chef Inês Beja e o chef Luís Almeida, e os estudantes do curso profissional de Turismo da Escola Secundária de Seia, reforçando o papel da ESTH enquanto espaço de aprendizagem, inovação e proximidade com a comunidade.
Sustentabilidade como motor de transformação
A palestra de fundo ficou a cargo de Gonçalo Poeta Fernandes, coordenador da área de Turismo e Hotelaria da ESTH, que sublinhou a importância crescente de integrar a sustentabilidade como princípio estruturante do setor.
Tendo hoje o turismo um papel que vai além da economia, Gonçalo Fernandes destacou que a “preservação dos territórios” contribui para que sejam “verdadeiros fatores de visitação”, trazendo com isso “benefício e bem-estar às comunidades”.
“O turismo e as atividades que são desenvolvidas nos nossos territórios devem reverter, em primeira instância, para aqueles que lá habitam. Criando bem-estar, criando condições de se fixarem ou alargarem as condições de abrigo e de bem-estar”, frisou.
Na sua intervenção, Gonçalo Fernandes destacou ainda os quatro grandes pilares definidos pela OMT para este ano: formação e qualificação profissional, investimento em infraestruturas sustentáveis, inovação tecnológica e práticas responsáveis na valorização dos recursos naturais e culturais.
“A sustentabilidade não se esgota na vertente ambiental – ela deve ser também económica, social e cultural”, recordou, apelando à formação qualificada e aperfeiçoamento de competências que garantam um turismo de qualidade.
Gonçalo Fernandes destacou ainda o papel das regiões do interior como territórios com enorme potencial de crescimento turístico, se valorizados com equilíbrio entre desenvolvimento e preservação.
De Seia à Finlândia: um restaurante de sucesso
O momento mais marcante foi a intervenção de Carlos Henriques, que, numa apresentação informal, partilhou o seu percurso pessoal e profissional, desde as origens humildes na freguesia de Contenças de Baixo (Mangualde), à formação na ESTH, até à criação do Nolla, um restaurante que é hoje referência internacional em desperdício zero e economia circular.

“Durante muitos anos procurei a perfeição na cozinha. Cheguei a um ponto em que percebi que a comida que cozinhava já não era a que eu queria comer. Estava a criar pratos para os outros — o que é, sem dúvida, importante — mas tinha deixado de cozinhar para mim. A restauração que praticava já não refletia quem eu era. E foi aí que percebi que algo tinha de mudar”, confessou.
Foi dessa inquietação que nasceu o projeto Nolla, onde sabor e sustentabilidade caminham lado a lado. O restaurante foi o primeiro na região nórdica a adotar uma política rigorosa de conceito zero waste (desperdício zero), incorporando práticas como compostagem de resíduos orgânicos no próprio restaurante, reutilização de óleos e materiais, uniformes feitos a partir de lençóis hospitalares reciclados, copos e utensílios produzidos a partir de garrafas reutilizadas, produção de sabão com gordura alimentar reutilizada e eliminação de plásticos descartáveis na cozinha.
“O que é afinal sustentabilidade?”, questionou o Chef Carlos Henriques. “A sustentabilidade é infinita. Nunca acaba. Há sempre espaço para fazer melhor”. Finalizou a intervenção dizendo que “a perfeição é uma miragem, mas a caminhada é real”.
A cerimónia contou com a moderação do subdiretor da Escola, Alexandre Martins, e intervenção final do docente Fernando de Lemos, que dinamizou um quiz interativo sobre sustentabilidade, premiando o envolvimento dos estudantes.
O evento terminou com a tradicional foto de grupo, tirada no exterior do edifício da ESTH, ao lado de uma nova faixa alusiva ao Dia Mundial do Turismo.