O ensino – um caso mal resolvido em Portugal
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“Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país”

A frase é de John F. Kennedy e continua a inspirar discursos e a acalentar convicções ideológicas, adaptando-se tão bem a qualquer contexto, seja ele político ou social.

Faziam parte do mapa das promessas eleitorais das últimas legislativas, as temáticas mais problemáticas da agenda política, a saúde, a educação, os impostos, os transportes e a cultura, ainda que todos os partidos tivessem propostas diferentes para as mesmas temáticas.

A educação e a saúde fazem parte das agendas políticas dos últimos 25/30 anos e mesmo assim ainda estão longe de chegar à situação ideal.

A educação é para muitos um problema estrutural, o que é inegável dada a burocracia implícita e as características do sistema. Mas não é só a estrutura a constituir um obstáculo para a resolução dos problemas relacionados com a educação. São vários os intervenientes – governo, professores, pais e alunos e todos com papeis distintos que por vezes são relegados.

Mas, é mais fácil acusar os governos de inação do que perguntar o que pode ser feito para melhorar o sistema.

De acordo com um estudo do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que tem como objetivo traçar o retrato dos sistemas educativos de todos os países participantes, incluindo Portugal, dava conta que há uma concentração nas opções de escolha de profissão com tendência a aumentar.

Em Portugal, são 58% os rapazes e 54% as raparigas que optam pelas mesmas áreas profissionais. A lista incluía 10 áreas.

O relatório alerta para os perigos que podem advir desta concentração já que podem significar falta de conhecimento do mercado de trabalho e falta de orientação profissional.

O relatório revela ainda que cada cinco jovens escolhem uma profissão que não se adequa à escolaridade que pretendem seguir.

É certo e sabido que existe em todas as escolas o Gabinete de Psicologia e Orientação Escolar (aka SPO – Serviço de Psicologia e Orientação), que ajuda o aluno na tomada de decisão informada, com base em metodologias consistentes.

É também certo que faz parte do programa educativo nas escolas o empreendedorismo, cujo objetivo é dotar o aluno com competências e atitudes que permitam empreender.

A salientar também as opções de estudo que permitem ao aluno sair do ensino corrente e enveredar pelo ensino profissional – são mais de 50 cursos que fazem parte das listas de cursos profissionais.

Recentemente foi criada a TUMO, em Coimbra, que é um programa educativo que combina tecnologia com criatividade. Este programa destina-se a jovens com idades entre os 12 e os 18 anos com a finalidade de definirem a sua própria trajetória de aprendizagem, adquirindo competências técnicas em áreas relevantes.

Com tantas ações e políticas educativas existentes, será que o problema está mesmo limitado às instituições de ensino e aos seus profissionais? São estes os principais culpados pela falta de orientação profissional e pelo insucesso dos alunos?

Nos últimos 20 anos, nunca o papel do professor foi tão banalizado e ridicularizado nos palcos do ensino. Assiste-se a uma constante desmotivação e indecisão por parte dos alunos, que não tem a ver com o professor ou a escola, mas com a estrutura no seio familiar. A par disto, prolifera a cultura do “trabalhar para os mínimos” ou o encontrar um meio mais simples de ter um diploma com pouco esforço.

A idealização de que “só tenho direitos” porque os deveres ficaram em casa e as lutas corporais de SUMO entre pais e docentes, onde os pais tentam desacreditar os professores a qualquer preço.

Por fim a educação basilar. Nunca a má educação atingiu contornos tão hediondos nas escolas.

Mas este retrato não está confinado aos jovens adolescentes, ele estende-se na hierarquia do ciclo escolar. O ensino de adultos padece dos mesmas enfermidades – alunos mal resolvidos, objetivos mínimos, lutas de egos e posturas agressivas de adultos aos professores, regadas com uma boa dose de má educação.

Se o aluno não está recetivo à aprendizagem, nem que o professor faça o pino nas aulas, este já mais aprenderá.

O saber-ser e saber-estar são atitudes que moldam a carreira profissional. Se o aluno não tem um propósito ou um caminho definido, qualquer caminho lhe serve. Trabalhar o saber-ser e saber-estar implica fazer as pazes com a escola e abrir a alma à aprendizagem, ao saber-saber e saber-fazer.

A escola não é onde tudo acaba, mas onde tudo começa. A escola diz-te: “O teu país tem muito para te oferecer, agora é a tua vez, pergunta-lhe o que podes fazer por ele com as ferramentas que te deu”.

Há que estudar, há que empreender e ter vontade de ir mais além. O país é vasto e todos os dias surgem inúmeras oportunidades. Todos os cenários podem ser oportunidades – cria visão e agarra-as!

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